terça-feira, dezembro 31, 2013

15 tópicos acerca do meu ano de 2013



1. Editei, em Fevereiro passado, o disco Manuel Fúria Contempla Os Lírios Do Campo, cujas gravações aconteceram entre 2010 e 2013.


2. [à pala desse disco] Fui capa do suplemento Ípsilon e obtive críticas extraordinárias, à excepção da secção musical do Sapo que não gostou. Curiosamente, no final do ano, o disco ficou arredado dos principais topes de melhores do ano. Citando o Vìtor Rua: "O melhor disco do ano é qualquer um que eu edite nesse ano".


3. Dei o meu melhor concerto até à data. Melhor do que qualquer um com os Golpes ou com qualquer outra banda que tenha feito parte. Interpretei, com os Náufragos e muitos amigos convidados, o meu disco preferido dos Heróis do Mar, "Mãe", e algumas canções minhas. Uma noite de proporções bíblicas.

4. Completei 30 anos de idade. A idade do início da vida pública de Cristo.


5. Viajei até Bombaim, Cochim, Goa, Damão, Diu e percebi melhor o que significa ser português. E indiano. E os dois ao mesmo tempo.


6. Estive junto do túmulo de São Francisco Xavier, em Velha Goa, e chorei.


7. Para além dos meus concertos com os Náufragos, participei em concertos da Xungaria do Céu, infra-banda inventada pelo AACC Tiago Guillul, da qual faço parte. Foram concertos-estilo-feira-popular-de-Lisboa: uma excitação!


8. A Catarina e eu casámos. Foi uma semana fabulosa, a do casamento (como as coisas por estes lados têm tendência para ser em grande, a boda adjectivou-se "cigana"). Citando o meu bom amigo José Fortes: "Deus é grande, não dorme e é muito meu amigo".

9. Resolvi voltar à vida universitária e inscrevi-me no curso de Teologia. É de doidos fazer isto nesta altura da minha vida, mas Deus não nos pede coisas que não consigamos concretizar.

10. Não liguei nenhuma a este blogue como se pode verificar pelas 3 ou 4 míseras entradas datadas de 2013.


11. Através da Amor Fúria organizei o último (!) concerto da Feromona. Coisa agri-doce, mas um final em grande. O AACC Tiago Guillul pergunta na Voz do Deserto por que razão uma das melhores bandas de rock no nosso País não sacou do nosso País aquilo que se espera das melhores bandas de rock? Eu respondo: porque Portugal não é do Rock.


12. O  Benfica perdeu tudo mas eu não.


13. Conheci o meu guitarrista preferido de todos os tempos. O Johnny Marr dos Smiths. Falei-lhe dessa preferência entre outras declarações de amor eterno. Deu-me um abraço e a palheta. Perdi a palheta.

14. Recebi a notícia que vou ser pai. E a Catarina mãe. Citando o meu bom amigo José Fortes: "Deus é grande, não dorme e é muito meu amigo".


15. Inventei uma super-banda chamada Exército de Salvação. Aconteceu na sequência do tal concerto da "Mãe" dos HDM. Era um sonho antigo e os ensaios já começaram. Há Samuel Úria, há Rui Pregal da Cunha, há Alexandre Cortez, há Alex d'Alva Teixeira, há outros nomes bem bonitos... 2014 podes tremer que daqui vem milho.

E pronto.






quarta-feira, abril 10, 2013

Acerca de culturas juvenis e da Igreja


Apesar dos cíclicos exercícios revivalistas, que sempre foram artifício próprio da cultura pope, mais ou menos desde a década de 1970, a partir do ano 2000, com a rede global a entrar, triunfal, nas vidas de todos, com o acesso a todas as memórias, todos os arquivos, esta ideia de reviver o que foi paradigma de outros tempos assenta, aparentemente, arraiais mais duradouros, com direito a rótulo e tudo, o prefixo retro

Hoje é dia 5 de Abril de 2013. Há 10 anos atrás corria o ano de 2003, há 20 anos atrás 1993, há 30, 1983. O exercício de perspectiva que poderemos fazer observando o que já passou será relativamente simples à luz desta ideia das culturas, subculturas e outras coisas que tais de índole juvenil e urbana. De 1983 será fácil identificar um panque, um vanguardista, um metaleiro, um beto. Em 1993 as marcas identitárias que definiam a malta da música de dança, os surfistas ou os desmazelados do grunge também se apresentam simples aos olhos que o tempo ensina a acalmar. 

Com certeza que estes dois parágrafos anteriores simplificam muito os movimentos das culturas juvenis urbanas mas dão uma impressão, ainda que superficial, daquilo que vai acontecendo, para chegarmos a este dia novamente, 5 de Abril de 2013. É que hoje os meus olhos estão, aqui e agora, condicionados a esta circunstância e não na distância e calma de um tempo futuro, e hoje não consigo avançar com definições tão precisas quanto as anteriores. Haverá hip hop, haverá roque, haverá hipsters, malta da música de dança, metaleiros e panques, haverá tudo e mais alguma coisa - misturado, remisturado, confuso e desornado tal como o mundo virtual nos ecrãs dos nossos computadores. E mais do que esse mundo virtual ser espelho fragmentado do que acontece na rua, o que acontece na rua é espelho fragmentado do que acontece nesse espaço imune ao tacto ou ao olfacto. Agora é mais difícil avançar com definições, tudo o que aconteceu volta a acontecer, tudo o que não aconteceu acontece e acontecerá. Sim, é confuso. O homem tem essa extraordinária capacidade de complicar e cobrir o essencial com camadas e camadas de vestuário, como uma cebola que em vez de se descascar vai operando em sentido inverso. 

A Igreja, pelo menos a Igreja hierárquica, sempre foi de um tempo ausente, procurando imunidade aos ricochetes do mundo, dirigindo-se sempre para a sua vocação de esposa e corpo de Cristo. Parece-me que a resposta e o desafio é precisamente o cumprimento dessa vocação. Se o  desafio é grande, paradoxalmente, é simples na procura da disponibilidade e do silêncio de Maria contrapondo o voluntarismo de Marta, sob o risco de penar uma infantilização de si própria se escolher as máscaras do mundo para se aproximar destas realidades. Essas máscaras não são precisas para chegar ao íntimo de cada um de nós. Se a Igreja quer chamar a si os jovens (quanto desprezo o paternalismo que esta palavra carrega) terá, não de ir ao seu encontro com os dispositivos mundanos que caracterizam estas culturas, mas com os dispositivos de Deus cumprindo a sua vocação de nudez, simplicidade, pobreza. Será, certamente, necessário compreender estas culturas, tal como São Francisco Xavier compreendeu indianos e japoneses, mas o objectivo primeiro e último é, através de suavidade e firmeza, o entendimento de cada pessoa, única e eternamente amada pelo Pai. 

As culturas juvenis são e sempre foram fascínio pelas coisas do mundo, eu que o diga. Venha a Igreja ao seu encontro, utilizando a linguagem deste tempo, permanecendo na fidelidade à única palavra que São João da Cruz fala neste seu conselho: O Pai Celeste disse uma única palavra: É o Seu Filho. Disse-a enternamente e num eterno silêncio. (...).


Artigo publicado no boletim "Observatório da Cultura", nº 19, uma publicação do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Manuel Fúria Contempla Os Lírios Do Campo


A Revolução da Esperança

Há esta certeza que faz falta proclamar: Manuel Fúria é um subversivo. Melhor ainda: um subversivo com uma missão. Acredita e pratica o que louva - valores e actos que, mais do que anacrónicos, são mal vistos pelo espírito deste tempo. Utiliza sem medo palavras como «pátria», «amor», caridade», «coração», «bondade», «rei», «fé», «rapariga», «noiva», «Cristo», «contemplação», «mistério», «alma». Para ele, tudo se poderia resumir num único vocábulo indizível que tem urgência de partilhar. E essa urgência é a razão de ser da sua arte e da extrema necessidade de fazer.

«Quero ver Lisboa a arder», anuncia ele no início da nova aventura-manifesto que é este disco, Manuel Fúria contempla os lírios do campo. A referência bíblica, para além de assumida, assalta-nos por uma estranha beleza proselitista, apenas porque pressentimos que ele crê sinceramente e isso é tão raro. O que seduz de imediato na arte e na personalidade do Manuel Fúria (e aqui chegados, permiti que o que assina estas linhas se intrometa ainda mais pessoalmente nesta conversa e confesse a sua amizade) é que tanto numa como noutra a verdade não se sobrepõe à sinceridade: valem o mesmo, e são indissociáveis. Outros criadores ou interpretes são genuinamente sinceros no momento em que transmitem sentimentos ou intenções, para depois os abandonarem; Fúria é verdadeiro, de uma forma absolutamente sincera.

Assim, rodeado de cúmplices de excelência que não por acaso se intitulam de Náufragos (na eterna espera, numa eterna deriva, numa angustiante liberdade), Manuel Fúria canta aquilo em que acredita, lamenta o que se perdeu mas reclama a possibilidade da esperança. O que esta colecção de cantigas sugere é uma visão de um mundo límpido e espiritual, onde o essencial é possível, e que esse mundo poderia começar em Portugal. Infelizmente, e como chegou a dizer numa entrevista, « Portugal ainda não é».Esta ontologia de Portugal teria assim de partir de um reino de amor e de festa. Se existem tentações - a cidade como Babilónia é assumida logo em Estandarte e lembrou-me uma das minhas passagens bíblicas preferidas:"Não deixes errar os olhos pelas ruas da cidade nem vagueies por seus lugares solitários" (Sir, 9, 7) - todas serão vencidas pelo Amor e pela Festa (Que Haja Festa Não Sei Onde). Desenganem- se no entanto aqueles que esperam um conjunto de homilias musicadas: este disco está infectado de pop por todos os tempos e todos os temas, que se ouvem, com sinais ostensivos de quem sabe como se faz uma canção e como usá-la.

Quem, como eu, assistiu aos rótulos fáceis e injuriosos colocados a um grupo de música moderna no principio dos anos 80 - sim, os Heróis do Mar e sim, uma das inspirações confessas de Fúria - sabe como poderia ser tentador arrumar esta arte numa gavetinha ideológica. Mas felizmente os tempos mudaram e maravilhosamente permitem que a obra de Fúria se revista de uma contemporaneidade (e a perenidade possível na pop) que não oferece dúvidas. Manuel Fúria é um incansável fazedor que embora descontente com o tempo a que pertence exige mostrá-lo com as armas que estes dias lhe dão. A prova - para além da sua música - está na editora Amor Fúria, que tal como a sua quase irmã Flor Caveira, sabem como dizer o que querem dizer. E que é muito e é preciso.

Antes de terminar, uma palavra para os músicos que participam no disco, quase todos eles ligados a outras bandas ou iniciativas em nome próprio. Este é um espírito de partilha recente na música moderna portuguesa, impensável no dealbar da década de 80, e que agora surge naturalmente graças a uma nova mentalidade. A saudável promiscuidade artística que pequenas editoras como a Amor Fúria, Flor Caveira (para ficar por aqui) apresentam são indícios de tempos novos, longe da ideia paroquial de «o meu talento é único e não o divido com ninguém».  

Depois da caminhada que fez com Os Golpes, em que tantas vezes foi reduzido a um reflexo voluntário de algo que já foi feito, Manuel Fúria precisava de um disco assim. Onde a sua voz e a sua alma esteja solta como ele gosta: em partilha. Amanhã? Não sei. Como ele, contento-me com hoje e remeto-me à mesma fonte e origem de todos os desafios: «Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações»(Mt, 6, 34). É urgente alistarmo-nos nesta Revolução da Esperança.  

Nuno Miguel Guedes

Concertos dia 22 e 23 de Fevereiro, respectivamente no Ritz Clube em Lisboa e no Plano B no Porto. O disco é o bilhete. Mais informações aqui no sítio da Fnac.

sexta-feira, janeiro 25, 2013

"O vento que a acompanha é feliz"

Na próxima segunda-feira dia 28 de Janeiro é editado o primeiro disco de longa-duração que assino com o meu nome. Em 2008 editei o pequeno disco "Manuel Fúria Apresenta As Aventuras do Homem Arranha" e, entre um e outro, ajudei a parir dois discos com Os Golpes, "Cruz Vermelha Sobre Fundo Branco" e o "G", 2009 e 2011/12.
O meu novo trabalho chama-se "Manuel Fúria Contempla Os Lírios do Campo" e quando defini o fio condutor que orienta esta fantasia escrevi um texto sobre as minhas intenções. Desse texto parafraseio algumas partes que me parecem pertinentes agora:


"Os objectivos desta obra discográfica de longa duração são a promoção de uma cultura pope de raíz portuguesa, apostada na valorização da identificação comunitária, da memória como alavanca fundamental do futuro, na vontade de uma reconciliação e apaziguamento de Portugal consigo próprio."


"Uma lírica que se debruça explicitamente sobre cenários latentes ao colectivo português: os bailes da terra, o bucolismo perdido, a procura de uma identidade que reside, em parte, nesse universo, os lírios do campo (símbolo maior da simplicidade campestre), em última análise uma dramaturgia do desassossego urbano que procura um violento e primordial encontro com a origem primeira da paridade absoluta (como o Jacinto d’A Cidade e As Serras)"

"Manuel Fúria Contempla Os Lírios Do Campo parte da referência explícita ao Sermão da Montanha, porventura o mais importante da Cristandade, aquele que lançou as bases para o código de conduta da civilização judaico-cristã, para fazer uma elegia a um novo e urgente êxodo urbano, em busca de uma espécie de paraíso perdido campestre, deixado à mercê dos caprichos da nossa inconstante e inconsolável memória colectiva."

O que me reservei a não declarar nestas minhas primeiras intenções é que há uma outra canção que atravessa este disco, uma canção que cantei pela primeira vez quando tinha 11 anos e que permaneceu. Intocada, intocável. Chama-se "Os Lírios" e concretiza o seu programa quando é cantada por todos, preferencialmente em roda, de olhos postos uns nos outros ou de cabeça para cima a olhar o céu nocturno. O lugar que se reclama ao longo das 9 cantigas que gravei com os Náufragos será provavelmente esse onde a cantei pela primeira vez. Aquilo que me funda, a minha visão do mundo, os meus sonhos estarão para sempre tingidos pelas cores desses lírios. Depois desse primeiro serão cantei muitas vezes a canção, tantas, incontáveis, que essas palavras tornaram-se parte do meu léxico e do meu imaginário. 
Enquanto compunha a última e mais importante canção deste meu novo disco, convenientemente intitulada "Os Lírios do Campo", os primeiros versos d'"Os Lírios" da minha infância emergiram com a espontaneidade e urgência própria de quem tem coisas para dizer, coisas de verdade, e soube de modo transparente que essa citação mais do que "ficar bem" pertencia àquela nova canção: "O que importa são os lírios, porque os lírios lírios são / Vinde todos e cantemos e cantemos a canção / O que importa são os lírios, porque os lírios lírios são / Vem do alto da montanha, vem do alto a canção". Sempre tomei "Os Lírios" como uma cantiga popular, de autor desconhecido e nessa condição, no livrinho que trará as letras das músicas na próxima segunda-feira, limitei-me a colocar aspas nos ditos versos. 
Esta semana descobri que a canção tem um autor. Chama-se Hélder Ribeiro e foi o inventor desses lugares onde "Os Lírios" se cantam. Este texto serve para mostrar a minha gratidão pela sua obra e sobretudo pelas flores que se encravaram na minha espinha dorsal. É com alegria que me apercebo dos frutos que a inspiração do homem pode fazer nascer, do lastro de terra fértil que podemos deixar no nosso caminho. Gostaria que os depositários da sua memória, sua família e amigos acolhessem estes novos lírios como a homenagem que inequivocamente é. Da minha parte continuarei a fazer justiça aos sábios versos, na música que faço, nos gigantes que projecto, nos degraus que vou subindo um de cada vez, sabendo agora o nome daquele que pela primeira vez os musicou. 
E acabo dizendo o mesmo que o Hélder Ribeiro ousou dizer: "Vinde todos e cantemos a canção."

quarta-feira, dezembro 05, 2012

O ínicio do Advento + uma série de coisas que ficaram por dizer

Anunciação, Botticelli, no Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque.

O Advento começou este Domingo, no término do tempo comum. Este Domingo esteve incluido na campanha de Natal do Banco Alimentar Contra a Fome, o que me leva à primeira coisa que ficou por dizer: Isabel Jonet, Allez Allez! (tenho de fazer uma t-shirt com esta frase). O tempo do Advento é o tempo próprio para prepararmos a alma para a vinda do Salvador; através da oração e da sintonia com o projecto de Deus para cada um de nós, o que me leva à segunda coisa que ficou por dizer: Obviamente que estou do lado dos polícias no dia do apedrejamento em São Bento. A última coisa por dizer é que o Tiago lançou um maravilhoso disco chamado Amamos Duvall, coisa perfeita para este tempo de purificação. 


segunda-feira, novembro 05, 2012

Venha a mim o seu ódio



Simpatizo com o Obama, o tipo parece genuinamente empenhado naquilo a que se propôs e desejo que ele ganhe, sobretudo que ganhe um rijo par de tomates; agora é o momento, mais do que nunca, na História, de dizer, como Roosevelt disse: Eles [os banqueiros] são unânimes no ódio que me têm e eu, de braços abertos, acolho o seu ódio.
(Suspiro) Quem poderá parafraseá-lo aqui, em Portugal?

sexta-feira, novembro 02, 2012

Dia de Finados

 Bernard Pierre Wolff, Túmulo da família Appiani, Cemitério Monumental de Staglieno, Génova, Itália

quinta-feira, novembro 01, 2012

Dia de Todos Os Santos

Giotto, Madona de Todos Os Santos, Galeria Uffizi, Florença, Itália

quarta-feira, outubro 31, 2012

31 de Outubro em Portugal e no mundo

O internacionalismo, essa praga maldita que nos vai destruindo desde que começámos a importar modelos estrangeiros para o nosso País, ou seja, desde que D. João V se armou em Rei Sol e mais tarde D. Pedro abraçado às ideias Napoleónicas (essa "santíssima trindade" da qual só interessa a Liberdade) , enquanto os franceses destruiam as nossas Igrejas e violavam as nossas mulheres, outorgou a Carta Constitucional de 1826, ganha, hoje, contornos especialmente mórbidos. 
A noite das bruxas, ou halloween, como lhes chamam os americanos (e os portugueses também), para além da óbvia ode ao consumismo em qualquer montra do Príncipe Real ao Guimarães Shopping, transforma um dos nossos mais belos feriados, o nosso dia de finados (na verdade o dia de finados é dia 2 de Novembro, mas não é feriado), num dia próprio para se ressacar.
Dia De Todos Os Santos: haverá dia no mundo com título mais bonito? A 1 de Novembro, para além de prestarmos homenagem aos nossos mortos celebramos todos os Santos, os canonizados e os não canonizados, os aclamados, os por aclamar, os conhecidos e os desconhecidos e todos os mártires da Igreja. Fico triste, mas sobretudo com uma tremenda pica para continuar a fazer o que tenho feito, é que eu sou de um país cujo futuro está alavancado na sua memória colectiva.

O Samuel Úria é que sabe o que diz, este é o único Halloween que se devia festejar em Portugal:


A Memória, o Ladrão e o Suporte Básico de Vida segundo o Tiago Pereira

Conheci o Tiago Pereira no myspace - essa moribunda rede social que em tempos de glória foi ponto de encontro e verdadeiro carburante de uma nova e empenhada geração de músicos e afins - através da sua insana actividade diária. Estamos a falar de comentários em tudo o que é perfil de artista e de dezenas de vídeos apresentando exóticas senhoras de idade, remisturadas a versar coisas em português. O Tiago parecia-me um bicho esquisito (coisa que mais tarde, na nossa amizade, confirmei ser verdade), empenhado numa qualquer causa bizarra que não me apetecia muito descobrir. Depois veio a Tradição Oral Contemporânea, em 2008, e, mesmo antes de ver o filme, só pelo título, apurei com mais exactidão a substância da bizarria com que, meia volta, me deparava no myspace. Comecei a admirar o Tiago, por algumas coincidências entre a sua e a minha narrativa e pelo impulso danado e urgente que o estrutura, coisa que comigo também vai sendo assim. Conhecemos-nos entretanto, já não me lembro muito bem como, e foi pelas suas mãos que saiu o mais bonito videograma dos Golpes até à data (número 100 da Música Portuguesa A Gostar Dela Própria, vão ver, é a canção Embarcadiço). Mais tarde trabalhámos juntos numa encomenda que Guimarães Capital Europeia da Cultura lhe fez, o filme Vamos Tocar Todos Juntos Para Ouvirmos Melhor, um portento visual e sonoro que até à data não tem sido lá muito visto; à parte esse pormenor foram uns dias especialmente brilhantes a interagir musicalmente com a malta da música tradicional do Vale do Ave (lugar em relação ao qual sou bastante afecto). 
Para quem não sabe, a vida do Tiago é essa mesmo, um labor diário, de uma extraordinária intensidade, por esse Portugal a dentro a recolher música. Toda a música. Com especial foco naquilo que vai definhando (falo da música tradicional portuguesa), para depois usar, misturar, remisturar. O Tiago é um arquivista, um intrépido defensor da memória, um resistente (enquanto escrevo este texto está o Tiago a partilhar no facebook o trabalho que está, agora mesmo, a fazer na Terceira). São logo três coisas que prezo com muito, muito valor: Memória, Arquivo, Resistência; e não sou só eu, vão ver o Elogio do Amor do Godard e perceberão melhor aquilo a que me refiro. 
Ontem, quando começava uma viagem Caldas de Vizela-Lisboa, deparo-me com um velho, de boina, à conversa com outro, ligeiramente mais novo, gordo, de bigode e camisolão de lã, encostados a um rail de segurança mesmo antes de uma portagem. A imagem colou-se ao pensamento e foi num ápice que me apercebi "Isto vai morrer". A imagem promove bem esta ideia: o novo e o velho, o progresso a engolir a tradição, etc., etc.. E essa ideia, "Isto vai morrer" atormentou-me especialmente... parece que li ali com as letras todas a certidão de óbito de Portugal. Coisa que intu?i desde há uns bons anos para cá, mas que nunca me tinha surgido tão evidente. Para o Tiago isto tornou-se claro há mais tempo e o seu trabalho é uma verdadeira tentativa de ressuscitação cardiopulmonar do nosso país. É que já nem é a auto-estrada a engolir a paisagem, já não são os incêndios de Verão ou o internacionalismo que domina a generalidade dos portugueses, é mais do que isso, é chegar à conclusão que não há ninguém para prosseguir aquela conversa à porta da auto-estrada. Não há ninguém! O banco de suplentes está vazio e os jogadores vão se retirando a pouco e pouco.
Não sei se sabem o nome de Portugal, mas Portugal não se chama Portugal, chama-se República Portuguesa desde que assassinaram o Rei Dom Carlos. É isto que se passa: vamos sendo roubados, destituídos, alienados. Esta crise representa muito mais do que a perda de coisas seculares (Lençóis amarelecem, gravatas puem, / a barba cresce, cai, os dentes caem, / os braços caem, / (...) as coisas caem, caem, caem, Carlos Drummond de Andrade, Indicações), esta crise traz com ela o anúncio da morte da nossa alma colectiva. Acabou. A eternidade foi chutada para canto. 

Ah, mas onde é que estão / As aldeias todas / Não veio o ladrão / Já não há pessoas? Madredeus, O Ladrão.

segunda-feira, outubro 29, 2012

Sempre fui outonal

Sempre fui Outonal. Todas as outras estações passo-as como um turista, meio desligado acho eu. Se calhar estou a exagerar, mas é uma maneira de dizer que todos os Outubros chego sempre a casa. Um lugar cujos códigos domino e posso desprezar. É isso, Outono é chegar a casa: o dia de todos os Santos, o Verão de São Martinho, cachecóis e estradas semi-nuas com árvores de folhas com cores a estalar. Por isso há conforto nesta altura do ano, mesmo que doa.


Já viram esta fotografia que eu tirei? 
Poderia bem passar como contracapa de um disco dos Red House Painters. 
Continuo a ser um bocado Red House Painters, acho que esta entrada é para falar sobre isso.

sexta-feira, outubro 26, 2012

Ofício diário




Pelo que é necessário fazer-nos indiferentes a todas as coisas criadas, em tudo o que é concedido à liberdade do nosso livre arbítrio, e não lhe está proibido. 
De tal maneira que, da nossa parte, não queiramos mais saúde que doença, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que breve, e, assim por diante em tudo o mais somente desejando e escolhendo o que mais nos conduz para o fim que somos criados.

Santo Inácio de Loyola, excerto dos Exercícios Espirituais

quarta-feira, outubro 24, 2012

Breve apontamento acerca da vontade em seguir Jesus

Percorri todos os corredores do pomar das laranjeiras na Sua companhia, afundei os pés nos buracos das toupeiras, dei com a cabeça nos galhos dos ramos das árvores, tropecei em calhaus disfarçados de terra e em calhaus que não se disfarçavam de nada. Alegre na Sua companhia. Fiz várias piscinas no pomar das laranjeiras, fui e voltei, para, de novo, me sentar no lugar do paralítico.

Entretanto os Dead Can Dance tocam no Porto. Eu gosto dos Dead Can Dance.

  

segunda-feira, outubro 22, 2012

Um caminho português II


Não escrevo aqui desde 1 de Dezembro de 2011. Praticamente um ano depois estou de regresso. Trago um disco novo e as mesmas palavras. Esta é a primeira canção desse disco. O disco chama-se "Manuel Fúria Contempla Os Lírios Do Campo" e tem data de edição para dia 28 de Janeiro.

quinta-feira, dezembro 01, 2011

Um caminho português

A banda musical na qual militei entre 2008 e 2011 (na verdade começámos a ensaiar juntos, ainda em 2005) começou pelo impulso adolescente próprio de quem cresceu a ouvir as coisas certas; cresceu através de divagações conceptuais, avalanches sonoras, sonhos de grandeza; cristalizou-se no emagrecimento dessas mesmas divagações e na certeira escolha de um caminho que já vinha a ser percorrido, mas que no momento-chave ficou definitivamente apurado: um caminho português.

Dia 29 de Novembro de 2011, Os Golpes emitiram o seguinte comunicado: 

A todos os que têm vindo a alimentar e acompanhar a história do Luís, Manuel Fúria, Nuno Moura e Pedro da Rosa 
que juntos se chamam Os Golpes:


Decidimos suspender toda a actividade da banda. 
Apresentam-se novos caminhos nas nossas vidas, caminhos que queremos desbravar.

Conforta-nos saber que há um passado que nos faz dançar e para o qual podemos olhar com muito orgulho.

A todos com quem nos cruzámos ao longo da estrada, muito obrigado.

Até mais tarde e prazer em conhecer-vos!

Os Golpes



O caminho que percorro e percorrerei até ao fim dos meus dias será esse que começou antes de eu sequer saber que já o percorria. O mesmo do impulso adolescente, dos sonhos de grandeza e de verdade. O caminho que desbravo e desbravarei é esse mesmo, um caminho português.

quinta-feira, novembro 24, 2011

Efeméride

Regresso à actividade do blogue. Por ter alguma tendência errática, a disciplina que a escrita internética sofre com isso. Mas não é preocupante. Por isso vamos a assuntos sérios:

Comemora-se esta semana os 30 anos da mais importante banda de sempre. A mesma que me ofereceu inspiração para o nome da editora que fundei (Amor Fúria surge do nome da canção Amantes Furiosos). A mesma que transportou a grandiosidade do Kagemusha para as canções, a mesma que transportou consigo 1000 anos de História em cima. Aquela que procurou a modernidade submersa na tradição. É do caraças.


terça-feira, julho 19, 2011

Notas

Uma montanha por cumprir, solidões por agrupar. O país do anúncio, diferente daquele que guardamos na memória mas que existe no precipício da esperança.
Manuel Fúria


Dá-me a voz das pedras, das pedras dá-me a voz
Não largar a festa, não largar a foz
Tenho um arcaboiço e uma faca afiada
Mas ainda não sou 
Os Velhos


Cada artista vem ao mundo para dizer só uma coisa, une seule toute petite chose. É só isso o que tem de encontrar, agrupando tudo o resto em redor dela. 
Paul Claudel

segunda-feira, julho 18, 2011

Desejo de uma magna reunião de cacos de porcelana



Sim, desejo de modo intenso que os Heróis do Mar se juntem para um concerto. Mesmo muito. E já agora a Madredeus com a Teresa Salgueiro, acordeão e violoncelo. Apesar de óbvio é importante que o diga assim, para inglês ver.

sexta-feira, julho 15, 2011

O tempo está do meu lado

Não acredito nos revivalismos, do mesmo modo que não acredito na República: a coisa até se faz, mas soa farsola. Reitero: tudo vem do passado, do futuro e do presente, sem distinção aparente, 3-2-1, já!
O tempo é meu e está do meu lado, tal qual Mick Jagger o canta. Tenho quantos anos quiser, vivo no ano que for preciso, ando perdido pela História. Das coisas do homem e das coisas de Deus. 

A primeira categoria da consciência histórica não é a memória ou a lembrança: é o anúncio, a expectativa, a promessa. F. Nietzsche

quinta-feira, julho 14, 2011

Aos Vivos

Na semana transacta festejámos forte e feio no Optimus Alive. Amor Fúria Aos Vivos foi o nome do evento que organizámos num dos palcos do festival. Concorremos com os Coldplay, imaginem... não basta serem bimbos, são também extremamente populares. Não passa nada, tranquilos, olhar fixo no horizonte. O Verão Azul, Asterisco Cardinal Bomba Caveira, O Deserto Branco, Manuel Fúria e os Náufragos, SALTO, Smix Smox Smux, Feromona, Os Capitães da Areia, Velhos e ainda Rui Pregal da Cunha, Golpes e Gonçalo Mendonça nos pratos dos discos. C'um caraças... A verdade é que há 4 anos atrás ninguém adivinharia tal coisa, quer dizer, dentro do perfil megalómano de alguns de nós passou isso e muito mais, muito mais. Agora, acção de graças; é coisa boa sentir que aquilo que se escreve no calor da mocidade pode ter correspondência concreta no tempo: um exército de rapazes e raparigas de caras e almas pintadas, pronto a transformar as emoções colectivas num momento partilhável pelas multidões. É coisa boa saber que ainda está tudo a começar. É coisa boa saber que se vai cumprindo o que está por cumprir.

Agora fiquem com o Vinny Reilly e com alguma coisa do tempo estival que os dias estão para isso.

Imagens e som em movimento para promover o segundo disco que assino em nome próprio.


 Depois de Manuel Fúria apresenta As Aventuras do Homem Arranha de 2008, segue-se Manuel Fúria Contempla Os Lírios do CampoA sair para o comércio da especialidade no último trimestre de 2011 através da Amor Fúria, Companhia de Discos do Campo Grande
A coisa foi filmada pelo Frederico Torres Pereira na primeira apresentação de Manuel Fúria com os Náufragos. No Promontório, em Lisboa.

quarta-feira, julho 13, 2011

sexta-feira, abril 29, 2011

Pequenas maravilhas que adquiro em bombas de gasolina deste nosso Portugal #2

A2
Sentido Sul-Norte
Área de Serviço de Alcochete


 Manuela Moura Guedes
Alibi
1982
    6,95 €

composto, tocado e produzido pelos GNR.
Parece fácil.

segunda-feira, abril 18, 2011

Da Cidade Trovoada



Eu avisei que estávamos na Primavera e o Verão ainda não chegou. Viva Chuva.

quarta-feira, abril 13, 2011

pequena nota

O post anterior contém citações retiradas de uma biografia que ando a ler. É também inspirado no carácter do personagem em causa. A biografia é escrita pelo Ian Kershaw. A personagem é o Adolfo Hitler. Serve, também, para ilustrar a canção que vai assim: Em cada cinco pessoas / há sempre seis ou sete ditadores. Tiago Guillul.

Coisas que irritam #14 (em exibição no Chiado)

A orgulhosa ostentação de múltiplos lugares-comuns em relação à cultura geral e à arte. O sabe-tudo opinioso. O modo insinuante e a candidez em sociedade. Os maneirismos exagerados, a cortesia desmesurada e afectada. A deselegância e insegurança palavrosa. Os erros ortográficos em voz alta. A vontade afirmativa demolida numa inevitável, palpável e estupenda banalidade.

De volta

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Primeiro passo

A possibilidade de encontrar reminiscências da verdade na comunidade em que nos inserimos, na nossa rua, na nossa vila, no nosso país, é um facto e parte, apenas e só, da disponibilidade interior para nos descentrarmos do umbigo que a sociedade contemporânea insiste, promove e insiste. O mesmo umbigo cuja obsessiva admiração nos faz bater contra as paredes. Tirania hedonista, tirania egocêntrica. Qualquer coisa desse género. Ao assumirmos a transcendência daquilo que somos, herdeiros de histórias, produto de séculos, filhos, netos e bisnetos de uma invenção bem mais larga que nós, damos o primeiro e certeiro passo em direcção ao que realmente nos consome e faz arder por dentro e por fora. O primeiro passo em direcção à verdade. É preciso dizer eu não sou eu, mas o outro, é necessário situarmos-nos de novo num lugar comum, o lugar de toda as pessoas que partilham as mesmas histórias, o mesmo peso, os mesmos avós. Chamemos-lhe pátria. Chamemos-lhe casa. Chamemos-lhe amor.
Mas o largo horizonte daquele que tem fé, a propensão mística de uma certa cristandade dá um segundo e importante passo. O da consciência da finitude. Da consciência que nada, nem mesmo nós somos propriedade seja de quem for - o nosso corpo não é nosso, mas um empréstimo a longo prazo se soubermos estar à altura da sua esplêndida arquitectura. Da assunção de que este estágio não é senão um treino para algo maior, algo que realmente nos transcende e que ansiamos com ardor. 

E se a pátria acabar? A pátria de um cristão não é deste mundo. Um cristão deve sacrificar a pátria à verdade.

Não depende da nossa vontade esse imortal desígnio, e a questão de Miguel de Unamuno é derradeira lição de insignificância. Mas antes, repito, dá-se o primeiro passo.

Escolhi a vida das bandas, também, por causa disto, 

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Cedência

Um verdadeiro cristão troca a Pátria pela Verdade. Sem pestanejar. 
(voltarei a isto mais tarde)

A Agonia do Cristianismo do Miguel de Unamuno volta a fazer parte da agenda do dia.

domingo, janeiro 23, 2011

Pequenas maravilhas que adquiro em bombas de gasolina deste nosso Portugal

A1 
Estação de Serviço de Pombal
Sentido Norte Sul


João Peste e Acidoxibordel
1990
3,80€
Viva o Rei!

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Institucional 4

sexta-feira, janeiro 14, 2011

AS61

Já tinha escrito aqui há uns tempos acerca do António Sérgio. Esta é a transposição visual da coisa. A propósito dos 61 anos que hoje celebramos no São Jorge. Dead Combo, Os Golpes, Linda Martini, Peste e Sida, Moonspell, Xutos e Pontapés. Chiça!

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Tempos de crise (com Leonard Cohen na estereofonia)

Muitas vezes regressou ao princípio das suas intenções. Muitas vezes pesou o mundo na mão esquerda e ,cega, a diligência na mão direita. Mas os pobres continuaram pobres e os ricos enriqueceram. Mas automóvel vazava combustível e o condutor cantarolava em uníssono fm.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Tutoriais

Aprendi com a experiência que as tomadas de decisão, as resoluções, os planos que se constroem têm mil vezes mais força quando lhes aquecemos as costas com a canção certa e o teledisco certo.

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Esqueci-me de avisar...

...deste artigo.

Esclarecimento alquímico

Não é o meu papel procurar inventar a invenção da pólvora. É que as suas propriedades são de tal ordem pujantes que aquilo que me coube foi a sua intrépida defesa. Nem que para isso seja precisa a invenção dos mais variados mecanismos. Uma canção, por exemplo. 

segunda-feira, janeiro 03, 2011

2010 - O Momento

Aos 38 segundos, o instante que me regista a engraxar os sapatos ao Rui Pregal da Cunha. Haverá maior gesto de reverência?

quinta-feira, dezembro 30, 2010

A minha lista de 2010

Alguns discos e a tradução de um monumento
(porque o cinema esteve cadavérico):





2010 em frases curtas

Deus lançou sobre mim alguma Graça neste ano que passou. Para além da pujança dos Golpes, onde milito, ainda tive a alegria de começar o processo d'Os Lírios Do Campo e de ter produzido um disco que se espera ser um dos grandes do ano que começa em breve. Estou a falar do disco dos Velhos como é óbvio. Não deixei de fumar. Conheci muitas pessoas novas e travei amizades com algumas delas. Cantei ao lado do vocalista da melhor banda portuguesa de sempre, trabalhei com o melhor técnico de som de Portugal e ilhas. Fui reconhecido por um dos empregados do café da esquina da minha rua por ter ido a um programa de televisão da TVI. No seio da Amor Fúria ajudei a editar 5 belos discos em 365 dias, um deles uma compilação com 11 títulos de 11 entidades criativas. Fui tocar ao Coliseu - onde vi o Nick Cave, os Sonic Youth com e sem Jim O'Rourke, os Tindersticks e os Violent Femmes - e voltei para casa a seguir. Descobri coisas novas mesmo boas como os Capitão Fausto ou as Pega Monstro. Fiz demasiados planos e concretizei alguns. 

E mesmo, mesmo a fechar o ano agradeço ao Francisco Xavier, vocalista dos Velhos, por me ter devolvido a paciência para o Tom Petty e os Quebra Corações. Para o ano há mais. Muito mais.


como é óbvio a escolha da canção não é inocente

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Intimidade ii

estrada velha
casa antiga
pus o dedo na tua ferida

do cancioneiro dos Capitães da Areia

Intimidade i



Não está em meu poder a possibilidade de escapar a esta intimidade com uma certa ideia de Portugal. É uma associação recíproca entre o sujeito da canção e as ruínas que restam de um país que não é o da Selecção Nacional de Futebol, nem do Tomás Taveira, nem dos centros-comerciais-que-são-os-maiores-da-península. É de outra ordem e é possível encontra-lo nesses lugares ondes os homens jogam cartas e falam pouco, onde o porco é morto em família, onde a maquinaria das coisas reserva-se a não alinhar com uma certa ideia de progresso.

segunda-feira, dezembro 27, 2010

A cruz que me foi entregue

Não será tanto uma inclinação patriótica como ideia de uma disposição serviçal, discricionária, indiferenciada aos desígnios da nação, mas antes qualquer coisa mais próxima dos versos de Alexandre O'Neill no poema Portugal (Feira Cabisbaixa, 1965): "Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo, / golpe até ao osso, (...) meu remorso, / meu remorso de todos nós...". 

sexta-feira, dezembro 24, 2010

terça-feira, dezembro 21, 2010




O problema da redenção jaz decerto na cratera que toma o lugar do corpo do homem perdido.

Julião Martinho 

terça-feira, novembro 23, 2010

Não ser

Por vezes estou letárgico, dúbio, indiferente.
Pairo sobre tudo e nada, vegeto, sobrevivo,
existo
e não sou.
Então, o tempo também não passa.
Invento aquilo que sou capaz, o que é pouco
e portanto não me satisfaz.
A minha noção das coisas é difusa, obtusa, 
rasa a realidade
mas está aquém,
ou, digo bem,
além,
na semi-obscuridade da neblina,
em que repousam indiferentes os seres cansados de não ser.

Gil Teixeira

quinta-feira, novembro 11, 2010

Coisas que irritam #13

Malta que arruma discos dos Joy Division ao lado dos discos dos Velvet Underground.

terça-feira, novembro 09, 2010

Os meus sonhos pope




É que a minha relação com a música pope é sobretudo emocional. Uma torrente de Amor e seus derivados. O que vale de mim a aguda noção de pertença ou a fuga armada em direcção a um sentido comunitário? Não faço ideia.

sexta-feira, novembro 05, 2010

Segundo Postal Para Os Músicos Portugueses


A grande diferença entre a música pope feita hoje em Portugal e a da década de 1980 é que hoje o fosso entre a coisa marginal e a coisa mais popular é muitíssimo maior. A densidade desse buraco está também ligada às formas que a coisa marginal insiste em colocar em causa.